MÃE TERRA

"TUDO O QUE EXISTE E VIVE PRECISA SER CUIDADO PARA CONTINUAR A EXISTIR E A VIVER:UMA PLANTA,UM ANIMAL,UMA CRIANÇA,UM IDOSO,O PLANETA TERRA"

Leonardo Boff

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Insetos são o alimento do futuro


Designer africano desenvolve aparelho portátil para criação de gafanhotos para alimentação humana
Paola Lira
brazilafrica.com
Protótipo do Terrarium Lepsis, que permite a criação de gafanhotos para alimentação. Foto: Mansour Ourasanah/Divulgação
Protótipo do Terrarium Lepsis, que permite a criação de gafanhotos para alimentação. Foto: Mansour Ourasanah/Divulgação
O designer africano Mansour Ourasanah concebeu uma forma de criar gafanhotos em casa. Nascido no Togo, Ourasanah é um dos finalistas do Index, prêmio para designers que promovam melhoria de vida que será entregue em Copenhagen, Dinamarca, em agosto.
O projeto foi desenvolvido em parceria com a marca americana de eletrodomésticos KitchenAid e promete ser uma opção para o futuro da alimentação humana. De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), comer insetos será a solução para fome, desperdício de alimentos, desmatamento, mudanças climáticas e poluição.
Ainda em fase de protótipo, o Terrarium Lepsis é produzido em acrílico arredondado, com base de madeira e uma grade hexagonal onde ficam os insetos. Quatro unidades modulares do utensílio separam reprodução, alimentação, coleta e abatedouro, esta última pode ser colocada em um refrigerador para conservação e consumo posterior. O processo dura cerca de um mês e suporta até cem gafanhotos.
Insetos fritos à venda em mercado do Camboja. Foto: Steve Baragona/Wikimedia Commons
Insetos fritos à venda em mercado do Camboja. Foto: Steve Baragona/Wikimedia Commons
Insetos já fazem parte da dieta de dois bilhões de pessoas no mundo, em países da América Latina, Ásia, e África, como no Togo, onde nasceu Ourasanah. O designer ressalta que as sociedades ocidentais devem abandonar o preconceito e perceber as vantagens sustentáveis do consumo de insetos. “O Lepsi não dá às pessoas a possibilidade de desculpas como ‘eu moro em Nova York então eu não posso comer insetos’ ou ‘ eu não estou em um lugar selvagem ou na África, então não posso comer insetos’. Agora a comida estará mais perto do que o seu bife” diz ele.
Quebrando barreiras
Em alguns países como Uganda, a indústria de insetos comestíveis é tão lucrativa que está mudando a tradição local. No país somente as mulheres e crianças podiam colher gafanhotos, chamados nsenene, e apenas os homens apreciavam a iguaria. Porém o crescimento do mercado fez com que os homens participassem também da coleta.
A coleta de gafanhotos é feita com lâmpadas, telas de metal e barris. Atraídos pela luz, os insetos escorregam pela tela e caem nos barris, onde ficam presos. A temporada dura por volta de três meses e rende até mil dólares para o coletor.
Estudantes da Universidade de Makere, em Uganda, desenvolveram um método para preservar o gafanhoto por mais de três meses. O novo método usa conservantes naturais e um processo de secagem para que o gafanhoto permaneça fresco mesmo depois da temporada de coleta, facilitando a comercialização. Com a ideia, os estudantes abriram uma empresa chamada Jordan Natural Food Buy e vendem a caixa de gafanhotos por 5 mil xelins, o equivalente a US$ 1,93.
Alimento do futuro
Em Bangkok, capital da Thailândia, insetos são considerados iguaria comum. Foto: Thomas Schoc/Wikimedia Commons
Em Bangkok, capital da Thailândia, insetos são considerados iguaria comum. Foto: Thomas Schoc/Wikimedia Commons
Segundo relatório da FAO divulgado em maio deste ano, a produção de insetos comestíveis em larga escala será a solução para alimentar a população mundial de quase nove bilhões em 2030. Além de solução para a fome, insetos também deverão ser usados no combate à obesidade: insetos não são gordurosos, mas  nutritivos, ricos em proteínas, vitaminas e minerais e algumas espécies possuem ômega 3 e 6.
Existem cerca de um milhão de espécies de insetos catalogadas, das quais mais de 1900 foram identificadas como comestíveis por seres humanos, sendo a maior quantidade encontrada no México, 589, seguido pelo continente africano, com 250 espécies. De acordo com a FAO, a criação de insetos também contribui para a diminuição do efeito estufa. Eles produzem dez vezes menos amônia e metano e 300 vezes menos óxido nitroso.
A criação de insetos pode significar um meio barato e lucrativo de subsistência e renda para pessoas de áreas rurais, pois insetos alimentam-se de resíduos biológicos, como restos de comida, e requerem o mínimo de água. Despesas com assistência técnica e para equipamentos também são consideravelmente menores do que o dinheiro gasto para pecuária tradicional, diz o relatório.
A diretora de Economia Florestal, Divisão de Política e de Produtos da FAO, Eva Muller ressalta que, ao contrário do que muitos pensam, insetos são comidos pelo sabor e não como alternativa à fome. Ela acrescentou que os países ocidentais, principalmente europeus, expressam interesse na incorporação de insetos em sua cozinha.
“Nós já vimos livros de receitas que oferecem receitas de insetos comestíveis, e há alguns restaurantes em capitais europeias que realmente oferecem em seus cardápios”, disse ela. “Eu não esperava que fosse algo que acontecesse muito rapidamente, mas se nos lembrarmos de que há 20 anos ninguém na Europa iria pensar em comer peixe cru, e agora todo mundo adora sushi, as coisas podem mudar, por isso mesmo as culturas que não são acostumadas a comer insetos podem, eventualmente, desenvolver um gosto por eles.”

Assista à palestra dada pelo especialista em entomologia Marcel Dicke sobre a adição de insetos na dieta
A FAO afirma ainda que é necessária informação e a criação de uma sociedade de produtores com um código de condutas e normas para a criação de insetos, semelhante ao do cultivo de cogumelos, para garantia e controle de qualidade do produto.
BRASIL/AFRICA.COM

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