MÃE TERRA

"TUDO O QUE EXISTE E VIVE PRECISA SER CUIDADO PARA CONTINUAR A EXISTIR E A VIVER:UMA PLANTA,UM ANIMAL,UMA CRIANÇA,UM IDOSO,O PLANETA TERRA"

Leonardo Boff

domingo, 9 de outubro de 2011

Álcool, drogas e adolescentes

por: Eliane Santos

Álcool e drogas sempre foram motivo de preocupação para os pais de qualquer geração, mas atualmente essa preocupação tem se acentuado por conta da banalização dessas drogas. Elas estão mais próximas, há sempre um jovem conhecido envolvido com drogas ou abusando de bebidas alcoólicas em festas.
Conversamos com o psiquiatra Dr. Pedro Pan Neto, para esclarecer dúvidas sobre o assunto (leia abaixo).

Tratamento em Cotia

• Projeto Jovem Samaritano
O projeto Jovem Samaritano, primeira clínica pública de São Paulo para tratamento de jovens dependentes em crack, álcool e outras drogas está sediado em Cotia. A clínica foi inaugurada em fevereiro de 2009 e em 2 anos e meio de funcionamento 279 jovens passaram por tratamento no local. O projeto é uma parceria técnica entre o Hospital Samaritano de São Paulo e a Secretaria Estadual de Saúde, com financiamento pelo Ministério da Saúde.
O Jovem Samaritano atende jovens do sexo masculino, com faixa etária entre 14 e 18 anos. 
Segundo o dr. Pedro Katz, Diretor-Técnico da Clínica e médico psiquiatra do Hospital Samaritano de São Paulo, o tratamento realizado na clínica é uma adaptação para o Brasil de um modelo norte-americano utilizado na Clínica Chestnut, em Illinois, EUA. “Durante o tratamento, a família também passa por orientação e participa ativamente das atividades do jovem. No período de residência, os jovens têm acompanhamento médico, atendimento em serviço social, participam de atividades educacionais, como aulas de português, matemática, iniciação musical instrumental e educação física, além de orientação vocacional e acompanhamento psicológico. O tempo médio de permanência na clínica é de 1 a 3 meses”.
Após o período de internação, o jovem passa pelo chamado “pós-inserção residencial”, onde há acompanhamento ambulatorial e parcerias para acompanhamento à distância, que pode durar de 3 até 24 meses.
Segundo dr. Katz, nesse período o jovem passa pela efetivação da perspectiva de futuro: com estágios em empresas, cursos profissionalizantes e educação formal, além de prevenção de recaída.  Quando sugerido, ou aleatoriamente, é realizada testagem urinária para avaliação de eventual consumo de drogas.  “Nos casos de recaídas ou lapsos, dependendo de cada caso, os pacientes são avaliados pelo serviço que o atende naquele momento e pela equipe do Jovem Samaritano e caso seja necessário, o jovem é reencaminhado ao Projeto para reinserção e retomada de tratamento”, explica.
A diferença do projeto em relação a outras clínicas de reabilitação é que só acontece a internação voluntariamente, se o jovem quiser se tratar. É feita uma avaliação inicial, na qual é detectada possibilidade de inserção ao projeto. Outra diferença é que estando em tratamento na clínica, o interno tem a liberdade de escolher se continua o tratamento ou se para a qualquer momento. Segundo dr. Katz, a porcentagem de jovens que abandonaram o tratamento no acumulado 2009/2010 e primeiro semestre de 2011 foi de 30%.
Questionado sobre as principais dependências dos jovens que passaram por tratamento na clínica, dr. Katz informou que nenhum jovem era dependente de somente uma droga, todos apresentavam uma dependência secundária. “O predomínio absoluto é o de usuários de cocaína e crack, 96,7% dos jovens tinham essas drogas como principal dependência referida (muitas vezes usados em associação)”.
A segunda droga mais usada em estreita associação com cocaína e crack é a maconha. O tabaco é a terceira droga, utilizado por cerca de 90% dos jovens.  
A capacidade de atendimento da clínica é de 100 jovens por ano. Atualmente são atendidos 11 jovens. O projeto tem atendimento regionalizado, pois assim pode-se melhor adequar o acompanhamento do tratamento no período pós-programa residencial. 36 profissionais atuam na clínica entre psiquiatra, psicólogos, assistentes sociais, professor de educação física e de música, enfermeiros, conselheiros em dependência química, entre outros. 
Para ter acesso ao tratamento, os jovens podem ser encaminhados pelas unidades de saúde e conselhos tutelares municipais do estado de SP. Além disso, o Projeto também recebe contato direto de interessados. Adolescentes que em avaliação inicial não preenchem o perfil para programa residencial, são encaminhados para tratamentos mais adequados, podendo eventualmente ser inseridos em programa ambulatorial, com atendimento terapêutico individual no Projeto.

Projeto Jovem Samaritano
Rod. Raposo Tavares, km 30.
Tel.: 4148-8450
Saiba mais: www.samaritano.org.br

• CAPS
Atualmente em Cotia não existe o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas.  A secretaria da Saúde inaugurará esse serviço esse mês. De acordo com o secretário Toninho Melo, a equipe do CAPS AD está sendo montada e contará com 26 profissionais entre psiquiatras e psicólogos. O paciente poderá procurar a UBS de seu bairro onde contará com atendimento semanal com esses profissionais, que avaliarão a situação do paciente, podendo encaminhá-lo ao CAPS, que terá atendimento diário das 8h às 17h.
O paciente terá atendimento psiquiátrico, acompanhamento e acesso a um tratamento. Na rede municipal ainda não há serviço de internação.

Na internet
O Governo Federal possui um site que reúne inúmeras informações não só sobre o crack, mas também sobre outras drogas. Há uma cartilha sobre drogas direcionada a pais de adolescentes, que pode ser baixada no site.
Existe também o Viva Voz, um canal de orientações sobre drogas do Governo Federal (0800 510 0015).

Entrevista com o psiquiatra Dr. Pedro Pan Neto:

JDA: Por que o álcool e as drogas são tão atraentes para os jovens?
Dr. Pedro: O Fenômeno das substâncias psicoativas sempre esteve presente na história da humanidade. É difícil encontrar uma civilização na história em que não há o relato de uso de substâncias que alterassem a consciência (por exemplo, o uso de substâncias em rituais religiosos de diversas civilizações). Em nossa sociedade, o uso dessas substâncias tomou proporções preocupantes, pois diversos grupos de pesquisa têm demonstrado nos últimos 50 anos um alto nível de prejuízo individual relacionado ao uso de drogas. O primeiro contato com essas substâncias se dá, na maioria das vezes, na adolescência.
Trata-se de uma fase da vida relacionada à experimentação e ao questionamento dos padrões e conceitos dos pais. Além disso, jovens e adolescentes ainda estão desenvolvendo certas habilidades, como avaliar riscos e medir consequências de seus atos. Um estudo do CEBRID da UNIFESP mostrou que as bebidas alcoólicas, por exemplo, são consumidas por mais de 65% dos alunos de 1o e 2o graus de 10 capitais brasileiras.
Dentre esses, a metade começou o uso entre os 10 e 12 anos de idade.

O álcool é um degrau para outras drogas?
Essa questão aborda a "teoria da porta de entrada". Alguns pesquisadores defendem que existe uma porta de entrada para as drogas, que seguiria a ordem das menos para as mais danosas, em uma escalada para a dependência mais grave. Contudo, sabe-se que a grande  maioria dos indivíduos que entram em contato com o álcool não faz esse caminho. Dessa forma, entende-se que questões individuais biológicas (por exemplo, fatores do desenvolvimento infantil, carga genética), psicossociais e do ambiente (disponibilidade da substância, aceitação pela sociedade) estão envolvidas no desenvolvimento das dependências. Trata-se de uma complexa interação indivíduo x droga x ambiente.

É inevitável o contato do adolescente com álcool e drogas atualmente. Qual a importância da prevenção e da educação a respeito desses temas?
Como mostrei no dado acima, mais da metade dos jovens entram em contato com álcool antes dos 12 anos. Nos EUA, estima-se que metade dos jovens entra em contato com maconha. A prevenção e a educação são fundamentais para ajudar o jovem a fazer suas escolhas de forma mais consciente. Essa é a principal ferramenta para o combate social das drogas. O nível de educação e esclarecimento está diretamente relacionado aos danos que uma droga pode causar e à escolha que o jovem faz, por exemplo, quando enfrenta uma situação de exposição às substâncias psicoativas.

Quando os pais e a escola devem começar a tocar no assunto?
Não existe uma idade certa para se iniciar a abordagem desse tema. Contudo, sabemos que a exposição se iniciará em fases muito precoces da adolescência.
Nesses momentos, uma abordagem de informação e esclarecimento pode ser interessante, instrumentalizando o futuro jovem a tomar decisões com base em seus conhecimentos. Nas fases mais precoces, é muito importante também a abordagem e avaliação de fatores de risco ambientais e sociais, com um foco maior, na saúde mental como um todo. Avaliar violência familiar, situações de muita privação material e afetiva, traumas infantis, dentre outras, pode ajudar a identificação de problemas muito iniciais do desenvolvimento das crianças. Todos esses fatores estão associados a doenças psiquiátricas, como a dependência de substâncias.

Como os pais podem identificar o uso de drogas ou álcool em adolescentes?
Não existe uma forma absolutamente precisa de identificar o uso de drogas em adolescentes. Esta própria fase está relacionada a mudanças importantes no comportamento do indivíduo. A melhor forma ainda é a conversa franca e aberta, deixando um espaço aberto para a discussão de possíveis conflitos e angústias sem pré-julgamento. O próprio medo dos pais de que seus filhos estejam envolvidos com drogas por vezes impede que tenham conversas sobre esse tema.

E após a confirmação do envolvimento com essas substâncias, o que fazer? Qual a maneira mais eficaz de fazer o jovem se distanciar do álcool e drogas?
Novamente aqui o primeiro caminho é a tentativa aberta e franca de abordar o jovem. Mostrar a preocupação, tentar enaltecer o contexto do uso da substância e mostrar os prejuízos associados ao seu uso. Nesse sentido, um profissional de saúde mental pode ajudar, melhorando a qualidade das informações sobre o risco das substâncias, e principalmente identificando os fatores individuais associados ao uso – por exemplo, baixa auto-estima, dificuldade para interação com o seu meio social, transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade ("auto-medicação"). Mais do que ajudar o jovem a se distanciar, o que é muito difícil na prática (visto a disponibilidade dessas substâncias, lícitas ou mesmo ilícitas), a principal estratégia deve ser ajudar e informar ao jovem os riscos relacionados ao uso de substâncias – dar poder ao jovem para que possa tomar suas próprias decisões.

E o que os pais devem fazer quando o jovem já se tornou dependente químico ou alcoólatra?
Quando fica evidente o prejuízo associado ao uso da substância, ou em outras palavras, o individuo não consegue mais não usar a substância, instala-se a dependência. Nesses casos o profissional de saúde, notadamente o de saúde mental, é fundamental. A dependência química é uma condição clínica, um transtorno psiquiátrico, de difícil tratamento, necessitando de um acompanhamento muito cuidadoso a longo prazo. Durante o tratamento por exemplo, podem ocorrer recaídas após a abstinência, que não significam necessariamente fracasso, mas necessitam de abordagem específica e focada no manejo dos problemas que desencadeiam a repetição do uso.

Mostrar que existem outras formas de se sentir prazer na vida (esportes, viagens, passeios) é um caminho para tentar tirar os jovens dos vícios?
Com certeza. Jovens com bons repertórios de atividades e prazeres encontram nesses fatores proteção para o uso de substância. Além disso, todos esses são fatores são fundamentais para uma boa saúde mental como um todo e sempre devem ser incentivados.
A mensagem final é: sempre estar aberto para a escuta; oferecer ajuda sempre que pareça necessário!!!

Fonte:JornalD'aqui

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