São muitas as lendas e mitos no que respeita à origem do chá.
A sua origem remonta o ano de 2737 a.c., na China, aquando do reinado do Imperador Sheng Nong, um governante justo e competente, amante das artes e da ciência e conhecido como o Curandeiro Divino. O Imperador, preocupado com as epidemias que devastavam o Império do Meio, decretou um edital que exigia que todas as pessoas fervessem a água antes de a consumirem.
Certo dia, quando o governador chinês passeava pelos seus jardins, pediu aos seus servidores que lhe fervessem água, enquanto descansava debaixo da sombra de uma árvore. Enquanto esperava que a água arrefece-se, algumas folhas vindas de uns arbustos caíram dentro do seu copo, atribuindo à água uma tonalidade acastanhada. O Imperador decidiu provar, surpreendendo-se com o sabor agradável. A partir deste momento ficou adepto do chá, induzindo o seu gosto ao seu povo.
Consta igualmente que terá sido este imperador a criar a medicina natural ou ervanária, testando ele próprio uma enorme variedade de bebidas medicinais à base do chá.
Como cada lenda ou mito costuma ter sempre alguma parte de verdade, esta não é excepção. É sabido que a origem do chá remonta ao período imediatamente antes da ascensão da Dinastia T'ang ao poder, entre os anos 618 e 906.
Esta Dinastia assistiu à difusão de uma bebida feita pelos monges budistas. Esta bebida, vinda dos Himalaias, era proveniente do arbusto do chá, de nome científico Camellia Sinensis, que crescia em estado selvagem nesta cordilheira asiática.
Segundo os relatos do monge budista japonês Ennin, durante uma viagem ao Império do Meio, por volta do século IX, o chá já fazia parte dos hábitos dos chineses. Na mesma época, um monge budista chinês, de nome Lu Yu, escreveu o primeiro grande livro sobre chá, chamado Ch'a Ching, onde são descritos os métodos de cultivo e preparação usados no Império.
Foi então que o chá começou a avançar para o Ocidente, através da Ásia Central e da Rússia. No entanto, só quando os portugueses chegaram ao Oriente, nos finais do século XV, é que se começou a conhecer verdadeiramente o chá.
Nesta época, as naus portuguesas traziam carregamentos de chá até ao porto de Lisboa, ponto de onde, a maioria da carga, era depois reexportada para a Holanda e a França. Portugal rapidamente perdeu o monopólio deste comércio, apesar de ter sido um sacerdote jesuíta português o primeiro europeu a escrever sobre o chá. No século XVII, a frota dos holandeses estava muito poderosa, dando-lhes vantagem.
Consta que a planta do chá verde já existia naturalmente na Birmânia, no Tibete e na China. O seu registro mais antigo está no Tunyo, uma espécie de contrato para comércio de escravos, escrito pelo chinês Wanfun no ano de 59 a.C., no qual estão previstas as funções dos escravos, entre as quais estava a preparação do chá.
No Japão, o ideograma da palavra chá foi grafado pela primeira vez no ano de 729 d.C., na era Nara. A cerimônia do chá, chamada de chanoyu, passou a ter a ética do zen e a estética da filosofia samurai, a partir do século XVI.
Em 1585 o chanoyu adquiriu o status de arte nacional do Japão, simbolizando o poder, marcante sentido político, e representando a rica cultura de um povo, aspecto cerimonial, através da execução do caminho do chá, chamado de chadô.
A elaboração do chadô requer muito mais do que prática, é necessário adotar uma filosofia, cuja idéia principal é ichigo ichie: na vida, uma única vez. Isso quer dizer que se deve dar valor aos acontecimentos da vida, como se eles surgissem somente uma vez.
O chadô simboliza o fato de que a reunião para degustar o chá nunca mais se repetirá, sendo assim, deve ser considerada com máxima sinceridade e seriedade.
A cerimônia do chá é tão significativa que seu aprendizado dura a vida inteira. Isso nos ensina que os modos de procedimento na cerimônia, chamados de temae, podem ser aperfeiçoados, melhorando cada vez mais os movimentos rigorosos executados pelo anfitrião para preparar e servir o chá.
O tipo de chá verde mais utilizado nesta cerimônia é o matcha. A melhor espécie nasce na região de Uji, no Japão. O primeiro requisito para se produzir um matcha de alta qualidade é manipular com muito cuidado as folhas do chá verde, tencha.
Cerca de um mês antes da colheita, as plantas são cobertas por esteiras de junco, sobre as quais se joga palha de arroz, com o objetivo de bloquear em 95% a passagem da luz do sol. Desta forma, as folhas produzem mais clorofila e adquirem sabor encorpado. Depois de colhidas, as folhas são cozidas a vapor e espalhadas numa sala de secagem, em seguida são moídas num pilão de pedra, resultando em um pó chamado matcha. A recomendação final é que se deve ter uma boa água.
Tradicionalmente, o chá está dividido em quatro categorias principais, baseados na grau de oxidação:
Chá branco - foi introduzido recentemente no mercado português dos chás, sendo feito igualmente a partir da Camellia sinensis, mas cujas folhas são tratadas de forma diferente dos chás tradicionais. São folhas jovens (novos botões que cresceram) que não sofreram efeitos de oxidação; os botões podem estar escudados da luz do sol para prevenir a formação de clorofila.
Chá verde - a oxidação é parada pela aplicação de calor, quer através de vapor, um método tradicional japonês, ou em bandejas quentes - o método tradicional chinês).
Oolong - cuja oxidação é parada algures entre o chá verde e o chá preto.
Chá preto - oxidação substancial. A tradução literal da palavra chinesa é chá vermelho, o que pode ser usado entre os fãs de chá. Preto, Verde, e Oolong, diferenciando-se pelo processamento das folhas.
Esta classificação está relacionada ao chá preparado com folhas da Camelia sinensis, a verdadeira planta do chá. Dentro de cada uma das categorias, há diversas misturas mais ou menos conhecidas, como o Pekoe, Darjeeling ou Ceilão.
No entanto, existem inúmeras outras plantas que se dedicam à preparação do “chá” ou, mais precisamente, infusões ou tisanas. Também elas são muito agradáveis ao paladar e tem propriedades medicinais
O chá é tradicionalmente usado, nos seus países de origem, como uma bebida benéfica à saúde em vários aspectos.
Recentemente, cientistas têm-se dedicado aos estudos dos efeitos do chá sobre o organismo, bem como conhecer melhor as substâncias que promovem esses efeitos.
Alguns estudos já demonstraram que o chá preto é eficaz como antioxidante e neuroestimulante, tendo sido aplicado em estudos contra o cancro e a epilepsia. E o que chá verde demonstra propriedades músculo-relaxantes, com efeitos sobre a hipertensão e ulcerações no aparelho digestivo.
Segundo alguns textos ligados à medicina natural e ao mundo da ervanária, existem alguns chás e infusões que podem aliviar certos tipos de mal-estar.
Dores de cabeça: Erva cidreira; camomila; alecriam; salva
Calmantes: Tília; Manjerona; Flor-de-laranjeira
Antifadiga: Tomilho; Alecrim
Dores menstruais: Salsa; Açafrão
Ansiedade: Camomila, raíz de Valeriana, Passiflora
Ressaca: Menta; Urtiga
Soluços: Hortelã-pimenta
Problemas Hepaticos: Burututu
Pedras nos Rins: Quebra pedra
No entanto, há que ter em conta que todos os tipos de chá são ricos em cafeína e saponinas que, quando ingeridas em excesso podem causar danos no organismo.
Escola de chá
No século 15, o chá tornou-se conhecido também no Ocidente, ganhando diferentes versões. Existem até mesmo escolas que estudam a bebida. A mais famosa da Europa é a Escola do Chá, no bairro de Marais, em Paris.
Sabores diferentes
Assim como os vinhos, os chás também apresentam aromas diferenciados, dependendo da região produtora. Conheça alguns dos mais especiais:
Lapsang Soushong — Um chá para os conhecedores, de folha grande, com um aroma ‘‘fumado’’, muito característico. Só existe na China.
Gumpowder — Nome estranho que deriva da forma como as folhas são enroladas formando bolinhas (pérolas). Chá verde tradicional, pálido, contendo menos cafeína do que qualquer outro chá. É o chá verde mais forte que se usa na Europa.
Darjeeling — Chá indiano, cultivado a uns 2 mil metros de altitude na cordilheira do Himalaia, muito apreciado pelo seu sabor delicado, agradável a qualquer hora.
Matcha — Chá em pó japonês, o preferido para a cerimônia do chá.
Informação nutricional
O valor nutricional do chá verdadeiro (planta Camellia Sinensis) é pouco significativo. Porém possui propriedades que auxiliam o bom funcionamento do nosso organismo.
O chá é composto por alguns estimulantes como a cafeína podendo por isso acelerar a frequência cardíaca, avivar a mente e facilitar a função respiratória. Os taninos presentes no chá, por seu lado, podem impedir uma adequada absorção de ferro, se o tomar à hora das refeições.
Deve evitar-se que as crianças bebam chá, pois os elementos químicos nele contidos podem provocar algum desgaste no aparelho digestivo. Além disso é importante referir que estes taninos também mancham os dentes.
Mas talvez a principal qualidade benéfica do chá resida num composto químico denominado por bioflavonóide cuja ingestão elevada actua como um antioxidante forte que reduz o risco de cancro e de doenças cardíacas
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