MÃE TERRA

"TUDO O QUE EXISTE E VIVE PRECISA SER CUIDADO PARA CONTINUAR A EXISTIR E A VIVER:UMA PLANTA,UM ANIMAL,UMA CRIANÇA,UM IDOSO,O PLANETA TERRA"

Leonardo Boff

sábado, 13 de agosto de 2011

HEPATITE CRÔNICA C

Hepatite Crônica C: Uma doença Silenciosa
Por Raymundo Paraná
O vírus da hepatite C (VHC) foi identificado pôr Choo (Dr. Qui-Lim Choo) e Cols em 1989. Pode causar doença crônica de fígado e hoje é responsável por nada menos do que 50% das indicações de transplante de fígado no Brasil.

O seu diagnóstico está baseado na sorologia (exame de sangue), porém há necessidade de testes confirmatórios, principalmente a validação da viremia (quantidade de vírus circulando no organismo) e do Genotipo (tipo de vírus C que infecta o indivíduo).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 170 milhões portadores do vírus C da hepatite no mundo. De modo geral, considera-se que a prevalência da infecção deste vírus é universalmente distribuída, porém existem bolsões de alta prevalência em algumas regiões da África.

A transmissão do VHC ocorre através de instrumentos perfuro cortantes ou de maneira não identificada, adquirida na comunidade, chamada de “forma esporádica”.

São grupos de maior vulnerabilidade a esta virose de transmissão parenteral: indivíduos que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de 1994; usuários de drogas intravenosas (licitas ou ilícitas); indivíduos tatuados em locais não vistoriados pela vigilância sanitária; indivíduos que tomaram injeções venosas com seringas de vidro na década de 70 e 80.

Situações habituais do cotidiano também podem transmitir o vírus C, como a partilha de lamina de barbear ou de qualquer instrumento perfuro-cortante. A transmissão sexual é de menor importância, enquanto a transmissão intra-familial parece ser mais dependente da partilha de instrumentos de uso estritamente pessoal como tesoura de unha e lâmina de barbear.

A transmissão de mãe para filho (vertical) é bem menos importante na hepatite C quando comparada a hepatite B, entretanto já se demonstrou que gestantes com elevada carga viral, ou aquelas co-infectadas pelo HIV apresentam maior risco de transmissão da doença para os recém nascidos.

Bases para o tratamento
A infecção pelo VHC causa um amplo espectro de doença hepática, com predomínio de formas leves e lentamente progressivas. Assim, devemos definir quais pacientes devam ser tratados, uma vez que os tratamentos atuais são caros, têm longa duração e apresentam efeitos adversos.

Tratar indiscriminadamente todos os portadores de hepatite C não parece ter justificativa à luz dos conhecimentos atuais. Diante disso, é fundamental selecionar entre os portadores do vírus aqueles com maior chance de resposta terapêutica e menor risco de complicações.

A partir de 1997, a terapia combinada associando Alfa-Interferon a Ribavirina, esta última na dose de 13 a 15 mg/Kg de peso corporal pôr dia, em duas tomadas, tornou-se a melhor opção terapêutica. Ambos os medicamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde

Este ano, teremos mais duas opções de medicamentos para serem adicionados ao esquema atual. Serão eles o Boceprevir e o Telaprevir.

Efeitos adversos do tratamento
Os efeitos do tratamento antiviral para hepatite C são dependentes das drogas utilizadas. Cada uma delas apresenta um conjunto de reações peculiares que podem potencializar-se quando existe associação com outras medicações antivirais.

Habitualmente, o tratamento antiviral é bem tolerado. A despeito dos efeitos colaterais pertinentes a cada uma das medicações antivirais, apenas 10 a 20% dos pacientes experimentam efeitos adversos mais importantes, capazes de induzir a redução ou suspensão do esquema terapêutico.

Ao médico caberá o conhecimento prévio e a experiência nos efeitos adversos das medicações antivirais utilizadas no sentido de intervir precocemente, permitindo que o tratamento antiviral alcance a sua programação final.

Na maioria das vezes, os efeitos colaterais são controlados às custas de outras medicações. Em situações especiais necessita-se a diminuição das doses das medicações ou mesmo com a suspensão da terapêutica antiviral. Poucos efeitos adversos associam-se a situações irreversíveis.

Avanços e desafios
Incontestavelmente, o Brasil cresceu no enfrentamento deste problema de saúde pública desde 2003. A nação tem hoje centros de referência espalhados em seu território. Apesar dos recentes avanços, estima-se que não mais do que 100 mil portadores de hepatites se encontrem na rede SUS. Destes, menos de 30 mil em tratamento.

Há ainda a escassez de hepatologistas no Brasil. Este é outro problema que se soma à dificuldade para realizar exames e procedimentos. A biópsia hepática, um procedimento relativamente simples, todavia hospitalar, é emblemático neste quesito. Os pacientes esperam mais de um ano pelo procedimento em muitas unidades da federação.

Acredito que seja imperativo a necessidade de educar a população. Da mesma maneira que foi feita com a aids, popularizando as campanhas na mídia.

Portanto, enfrentar o drama das hepatites virais no país é um esforço concentrado de toda a sociedade, incluindo profissionais de saúde, gestores, profissionais de imprensa e a sociedade civil organizada.

Raymundo Paraná é Presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, professor Livre-Docente de Hepatologia Clinicada UFBA e Chefe do serviço de Gastro-Hepatologia do Hospital Universitário da UFBA

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